quarta-feira, 29 de abril de 2015

O Ceará na vanguarda do Semiárido (Jornal O Povo)

O Ceará na vanguarda do Semiárido

Dono de legislação para uso de água mais antiga que a nacional e de órgãos públicos renomados, Ceará assume a vanguarda das pesquisas científicas sobre convivência com o Semiárido


A complexidade do Semiárido não é uma barreira intransponível. Desenvolver soluções de tecnologia e de gestão torna-se, a cada dia, um processo mais legítimo. Quem vive nessa região tem uma certeza marcada: as precipitações podem rarear por várias quadras chuvosas e o risco de ficar sem água nas torneiras é real.
Por isso, durante décadas, foram elaboradas saídas - pelos órgãos públicos e pelas universidades - para o Ceará conseguir conviver com a ausência de precipitação por anos consecutivos. Desde 2012 com chuvas abaixo da média histórica, seria presumível já ter entrado em colapso total. Mas, até agora, a maioria das zonas urbanas do Estado consegue manter o mínimo de abastecimento – utilizando adutoras, poços profundos ou os controversos carros-pipa.
“Nós estamos tomando banho e bebendo água em Fortaleza por causa da maior solução hídrica já feita, o Açude Castanhão. A cisterna é boa, mas não resolve o problema para longos períodos e nem para uma metrópole”, defende Marco Aurélio Holanda, vice-diretor do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). O problema da região semiárida, explica o professor, não é somente a ausência de precipitações – mas a composição do solo e as altas taxas de evaporação.

A maior parte do Ceará é composta por rochas que não filtram os líquidos. “Por isso, muitas vezes, os poços são cavados e não conseguimos extrair água ou acabamos encontrando água salobra. Se não houvesse o (Açude) Castanhão, estaríamos em uma crise hídrica severíssima”, relata Marco.


Hoje, segundo informação fornecida pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa), o Ceará tem metade da capacidade de armazenamento hídrico de todo o Semiárido. O Estado se destaca - conforme pontua Salomão Medeiros, diretor adjunto do órgão -, não apenas pela infraestrutura construída ao longo de décadas, mas principalmente pela forma como conduziu o gerenciamento da água disponível. “É um estado de vanguarda nas questões de água. A legislação estadual é mais velha do que a lei nacional. A UFC é reconhecida em âmbito nacional e internacional por pesquisas e estudos desenvolvidos sobre o tema. O Ceará é utilizado como exemplo”, afirma Salomão.

Aporte hídrico
Apesar de estar com apenas 19% do volume total de água nos reservatórios, o Ceará é destaque quando consideramos o armazenamento hídrico do Semiárido. Fruto da política de açudagem implantada ao longo de décadas, a capacidade de acúmulo é superior aos outros estados nordestinos. Segundo João Abner Guimarães, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a grande contradição é não conseguir distribuir esta água para todas as regiões do Estado. “O Ceará é a experiência mais bem sucedida no Nordeste em recursos hídricos, mas ainda precisa socializar os benefícios dessa estrutura”. O professor lembra que, diferente de outros locais, o ordenamento das adutoras é relativamente curto. “São ligações de somente, doze ou quinze quilômetros, em sua maioria. São poucas as ligações que ultrapassam os cem quilômetros”, pontua.

Neste domingo, Dia Mundial da Água, o Ciência & Saúde debate a importância das novas tecnologias para a convivência com o Semiárido, as ações pontuais para mitigar efeitos da seca e o papel da universidade na busca de soluções. Boa leitura!
Números149 é a quantidade de açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) no Ceará129 é o número de açudes que apresentam volume total inferior aos 30%18.797hm³ é a capacidade de armazenamento hídrico do Ceará. Hoje, o Estado tem 19% do volume total

DICIONÁRIO
O que é o Semiárido? Área geográfica onde as chuvas são bastante irregulares e o solo é raso. Essas características geram longos períodos de estiagem. Cobrindo quase 8% do território nacional, o Semiárido abrange os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais. Há períodos de muita chuva, alternados por épocas de precipitação incipiente.Reportagem do Jornal O Povo em 22.03.2015http://www.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2015/03/21/noticiasjornalcienciaesaude,3409467/o-ceara-na-vanguarda-do-semiarido.shtml

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